Decidi escrever-te, como quem não quer a coisa, não só porque sim, mas porque há uns bons anos que me morreste. E hoje é um bom dia para te escrever.
Apetecia-me enfiar-me no carro e conduzir até o gasóleo se acabar, e quando se acabasse, iria até o vale mais descoberto que encontrasse e gritaria o teu nome, que há tanto tempo não pronuncio.
(Que eu quero um abraço.)
Não tenho a quem me retornar, nem sequer tenho o direito a fazer lamentações, a culpa foi minha. Morremo-nos tão completamente que o que ficou foi indiferença, inimizade, raiva, confronto, e desculpa... Mas ficou saudade.
Já não olhamos à volta para ver o nome das ruas. Já não sorrimos se nos vemos. Já não choramos nos ombros um do outro, porque já não somos melhores amigos... (Ah e tu foste o melhor que eu tive!) Nem amigos. Nem nada. É isso! Não somos nada.
(Que eu quero só um abraço.)
Somos uma nuvem negra, daquelas para onde vão os inimigos chorar. Mais eu que tu, que tu nem sabes que existo, porque te morri. Às vezes, na noite escura, vejo uma estrela a brilhar e penso que és tu, que te perguntas como estarei eu, que reclamas por já não me protegeres como fizeste durante tantos anos...
Ainda não caí no erro de ir a sítios proibídos, mas garanto-te que já esteve mais longe disso. É assim, eu gosto de cometer erros e o maior foi cometido contigo.
Sabes, eu não quero o que não tens para me dar. Normalmente as pessoas querem tudo o que os outros não lhes podem dar. Mas eu não. Só quero aquilo que me pertence e que dás a tanta gente. Aquilo que foi meu durante anos e que me faz mais falta do que o ar puro a entranhar-se-me nas narinas.
Não contes a ninguém, mas já me fizeste chorar mais agora do que em anos de vida partilhada. E sim! Fico chateada.
(Que eu quero só um abraço, por favor.)
Não vou sair porque às vezes lá estás tu, com o teu ar de menino, fitando quem vai e quem vem, e tenho parte de mim a querer ir, e outra a querer vir. E não posso, por respeito a quem não sabe.
Fico-me por aqui. Não disse nem metade do que sinto, mas não quero estragar-te o dia, que eu sei que falar de mim é quase como falar no Diabo, e a única coisa que eu queria neste momento é saber se estás bem e abraçar-te caso não estivesses, como era habitual.
Morreste-me, e eu não queria.
Mesmo que não possa,
A tua amiga, sempre amiga...
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