É injusto. É contra a lei da natureza. Os filhos nunca se devem ir primeiro do que os pais. Não é justo os pais verem os seus mais que tudo partir.
Ontem, isso aconteceu da pior maneira possível. Um casal, mais ou menos da minha idade, morreu ontem num acidente de carro. A J. era a mais conhecida, julgo que não há ninguém em Santiago do Cacém que não a conhecesse e que não gostasse dela.
Eu estive com ela na explicação de Matemática há uns anos, e lembro-me tão bem de falarmos sobre os penteados do baile de finalistas.
Fiquei chocada. Ainda não estou bem em mim. Não sei bem o que dizer. Apetece-me chorar, e a última coisa que me apetece fazer é entrar dentro de um carro. A estrada transformou-se numa selva.
A minha mãe ligou-me a choramingar, a implorar-me que tivesse cuidado quer estivesse sozinha, quer estivesse com o D., e mais umas coisas privadas que não vou postar aqui.
A minha avó ligou-me com uma desculpa esfarrapada, às tantas já dizia "Só vens no próximo fim-de-semana, né filha? A avó 'tava mais descansada se estivesses aqui."
O meu pai diz que a vida é uma merda e que não valemos nada, de um momento para o outro voamos. Às tantas revolta-se com Deus - E querem que eu acredite em Deus? Querem?
Eu também me revolto. Revolto-me com Deus, revolto-me com automobilistas que não sabem o que é civismo e revolto-me por acontecerem estas coisas.
Agora, começam os pais, as mães e as avós a ligarem para se certificarem que está tudo bem, que não vamos sair de carro, que vamos ter cuidado, e dizer uma data de frases daquelas que aconchegam o coração.
É o que estes pais não poderão fazer mais. Não poderão certificar-se de que está tudo bem, não vão poder aconchegar os corações. Porque os seus corações voaram para um sítio melhor, esperemos nós.
Hoje não vão haver sorrisos na minha terra. E eu, acompanho o mesmo luto de longe.
És uma puta, Vida. Uma valente puta.
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