segunda-feira, 18 de abril de 2011

10 anos depois

Ainda sinto o cheiro entranhado nas tuas roupas, mistura de bagaço e tabaco de enrolar, ainda te oiço chamando por mim quando me aproximava do tanque onde a avó lavava a roupa, ainda sinto os teus braços à minha volta quando caía do baloiço que tu me fizeste por baixo da oliveira ao pé da vinha, ainda te vejo respirar a custo agarrado a uma bomba, ainda te sinto sentado na malhadinha onde eu dormia a sesta à espera que eu adormecesse para que tu fosses aquecer-te junto à lareira, ainda olho para a tua casa e te vejo sentado à porta a mandar uns pontapés numa bola amarela com losangos vermelhos, ainda te vejo a arrancar-me o nariz e eu a acreditar que tinhas mesmo ficado com ele, ainda te oiço a avisar-me - Liana não brinques com o fogo da lareira, olha que fazes xixi na cama!, ainda te oiço a tentar dizer o meu nome e não sair, ainda sinto a dor que senti quando soube que te ias, ainda sinto a doença que senti quando a mãe disse que te tinhas ido, ainda oiço os teus sobrinhos agarrem-se desesperadamente à avó e a chorarem, ainda sinto os braços e o choro miado da avó agarrada a mim após o teu funeral, ainda me lembro que todos os anos choramos por ti, ainda me lembro que todos os anos sinto a tua falta.

Até um dia destes, avôzinho!

domingo, 17 de abril de 2011

3 dias depois ainda existe farinha no meu cabelo - Saga Praxes parte II / Traçadinha

A minha reacção quando de repente começamos a levar com uma água com um cheiro ligeiramente insuportável, umas gramas de farinha e um ovo nada podre em cima dos nossos cabelos secos, oleosos, lisos, encaracolados, ondulados e afins, foi dizer - É uma máscara capilar! Que haveria eu de fazer se não rir da situação? Foi isso que fiz desde o primeiro dia de praxe (6 de Outubro de 2010) até à passada quinta-feira (14 de Abril de 2011). Não posso dizer que não foi dificil, porque foi. A pressão que nos foi posta em cima, de certa forma afectou-nos. Houve lágrimas, houve gritos silenciosos, houve pedidos de ajuda e desabafos sem fim. Mas tenho que referir que tivemos provavelmente dos melhores veteranos que alguma vez alguém teve, isto porque, ao contrário do que muita gente por aí resmunga, eles preocupavam-se connosco. Falando em resmungar, cá para mim deve haver uma menininha ou outra, ou se calhar até ainda outra que vão a Tribunal de Praxes no próximo ano. Ninguém me obrigou a participar nas praxes, eu poderia perfeitamente ter-me declarado anti-praxe, mas não o fiz por um simples motivo, eu gostei das praxes e achei as actividades que fizemos giríssimas (bowling humano é perigoso?! WTF? Morri e nem dei por isso). Estive lá sempre, todos os dias de praxe eu estive lá, tudo o que pediam para fazer eu fazia sem nunca resmungar com elas, podia pensar para mim "Epa que chatice!" mas nunca lhes faltei ao respeito. E como eu muita gente das minhas queridas colegas que suaram naquela relva muitas vezes molhada até que a voz não mais saísse para cantar "Eu sou TF e vou ser toda a vida, AI! Eu como Fisios ao pequeno-almoço e dos TO não sobra o caroço!".
No entanto, houve gente que não soube respeitar a hierarquia que há dentro daquele seio académico, mas pior do que isso, faltaram ao respeito como pessoas. Essas mesmas pessoas, devem ter estado umas 2 vezes nas praxes. Sou sincera, já que trajaram (para mim não são dignas de honrar o traje académico) então pelo menos que vão a Tribunal de Praxes no próximo ano.

A TRAÇADA DAS TERAPEUTAS DA FALA

Leindo! A minha madrinha a traçar-me a capa e eu toda irrequieta a tentr coçar as pernas. Porquê? Porque tinha formingas a subirem-me o pernial.
Foi um dia de grandes emoções. De certo modo, senti que faltava ali metade de mim, senti-me sozinha como acontece tantas outras vezes. Em qualquer das ocasiões não tive vontade de chorar, não sei se estou a perder essa capacidade de deitar água pelos olhos ou o que é. Arrepiei-me quando olhei à minha volta e vi toda a gente vestida de igual, toda a gente de capa traçada, com a música da Tuna a espalhar a melodia pelo jardim. Fotografias aqui, Parabéns ali, Sorrisos acolá. Até que... O sistema de rega se ligou e a malta teve de bazar.
Gostava de pôr aqui fotografias mas o Blog, que é um fofo, não deixa. Có.
Que venha mais festa, que é isso que as Senhoras Terapeutas querem!

P.S. - Sapatinhos lindos e amorosos, só é pena apertarem o meu dedinho pequenino, porque tirando isso... Uff, que alívio!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Às vezes as pessoas são assim, e perdem a minha consideração, Ponto

E a minha professora de Fonética é uma delas.
Provavelmente eu sou uma das poucas pessoas naquela turma que nunca lhe faltou ao respeito, que a defendia quando falavam com ela de uma maneira que nem aos cães se fala, quando ela explicava uma coisa e quando ela perguntava algo as respostas eram risadas mesmo na cara dela.
A sério, gostava mesmo daquela professora. Parecia nossa avó, e eu adoro avós.
Mas hoje, falou-me com tão pouco ou nenhum respeito que perdi a minha total consideração por ela. Pior, é que depois de ter sido ferida por ela, ainda consegui fazer-lhe o meu tipico sorriso e dizer-lhe "Adeus professora!" como se a fosse ver na próxima semana e a palhaçada de gente sem miolos começasse novamente.
Não me parece que tenha culpa de "pensar em alentejano", coisa nada estranha porque sou de lá. As minhas vogais são mais nasaladas do que as das minhas colegas, e de vez em quando salta-me uma palavra ou outra com sotaque. Ao pensar na frase para transcrever, foi tiro e queda, a frase só me saí do pensamento em "alentejanês". Tive que a ler baixinho sozinha para conseguir fazer aquilo. E a única coisa que eu queria era ajuda, era um truque para ser mais fácil transcrever sons sem pensar no meu dialecto. Não queria um "Assim não dá! Vá diga lá" como se lhe devesse 5 contos de réis e um "A X também tem sotaque e não foi por isso que deixou de fazer!". Obrigada, eu também não deixei de fazer, fi-la com esforço mas fiz e sozinha. Mas há algo que eu deixei, ao certo, de fazer: Ter tanta consideração por si como tinha até hoje, por muito que me faça lembrar uma avó. E eu adoro avós.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Saga Praxes parte I

E começou a última semana da minha vida de Caloira Besta Sarnenta Mal-cheirosa Pimba. Começámos bem, ninguém imaginou que haveriam praxes hoje, logo, as futuras Terapeutas da Fala da ESSA foram todas pipizinhas, resultado: roupas boas todas cagadas porque uma coisa (sim, não é uma Terapeuta é mesmo uma coisa) fez o favor de gritar "BOMBA!" e a rapaziada teve que se atirar toda para a relva molhada (coisa que as nossas LINDAS e QUERIDAS Terapeutas estavam a evitar, elas tratam-nos tão bem!).
A minha pessoa fez uma declaração a um Terapeuta e nem lhe viu as fuças, só os sapatinhos que tanto elogiei e que tão rotos estavam! Para além disso andámos a correr atrás de uma bola, agarrámos pessoas, era a única pessoa que não estava pintada, andei a apanhar flores com a Mafi e a distribuir às senhoras Terapeutas, e no fim da tarde senti os meus incharem à grande. Neste momento não sinto os pés. Para a semana será pior! Terça tenho estágio, não me sujem a farda por favor!
Saímos da escola às 19.30h, mais coisa menos coisa.
As resistentes, sempre. Ora digam-me lá se não somos as melhores caloiras que a ESSA poderia ter?! Até andámos semi-ao combate com os caloiritos de Terapia Ocupacional (I fuck you T.O.) e ficámos roxas de cantar tão alto "Ai ai ai ai, AI AI AI! Fala eu te adoro! Contigo estarei enquanto estudar, quando eu te deixar eu choro"!).

Para Sempre, é muito tempo

Era uma vez uma dor que se chamava Para Sempre. A dor Para Sempre perseguia as pessoas mais lutadoras e mais felizes, por ter inveja do seu bem-estar.
Um dia a dor Para Sempre agarrou-se de tal modo a uma menina de 7 anos, que nunca mais a largou e raramente se agarrava a outra pessoa. Houve algo naquela menina que lhe havia chamado a atenção. Uma menina inocente, extremamente feliz no meio da sua grande família, chamava pais aos seus avós, corria e saltava pelos campos com os seus sapatinhos de veludo, oferecidos pela tia no Natal. Um dia, a dor Para Sempre trouxe uma coisa má para uma pessoa que a menina gostava muito, sem dó nem piedade, a dor arrastou toda a gente para esta coisa má.
A menina já não chamava pais aos avós, já não corria nem saltava com os seus sapatinhos de veludo.
A menina sentiu a dor de perder quem mais amava, Para Sempre.
E é uma dor contínua.

domingo, 3 de abril de 2011

Azedei.

Gosto tanto do Futebol Clube do Porto, assim como eu gosto de MERDA, literalmente.
Lamento, mas sigo de águia ao peito até ao fim dos meus dias.
E não! A vitória do Porto não foi, de todo, merecida.

Parabéns aos felizes contemplados por ganharem graças a luvas do Pintinho. É de homens com tomates, sim senhor!

sábado, 2 de abril de 2011

I'm coming home

Sentada, saboreava um pacote de batatas fritas daquelas light que não sabem a coisa nenhuma, e ouvia um murmúrio vindo das entranhas da minha cabeça. Pareciam pessoas a falarem ao mesmo tempo. Riam, brincavam com as palavras como se se quisessem agredir uns aos outros, gozando por não ouvirem o que fulano tal disse, segredando sobre o que aconteceu à Ti qualquer coisa na semana passada, elogiando o almoço que a cozinheira fez, perguntando no fim das refeições - Vai um cafézinho?, saindo para comer uma tangerina no jardim com o sol a bater na cara.
Ouvia e via tudo isto como se de facto estivesse a acontecer.
Levantei-me do sofá, mole como um alentejano antes de dormir a sesta, encostei-me à janela e deixei-me ficar, ouvindo todas aquelas vozes ao mesmo tempo. Procurava ver um pedaço de rio, um pedaço de uma das pontes, um pedaço da outra margem.
Foi então que percebi, que as vozes que ouvia eram recordações que trago todos os dias comigo, e que o que tinha... Eram saudades.